terça-feira, 10 de junho de 2014

De Eduardo Pitta

"Triunfo absoluto da ficção"

in Da Literatura, 15maio2014
Hoje na Sábado escrevo sobre Os Memoráveis, de Lídia Jorge (n. 1946), romance que tem a dupla intenção de celebrar os 40 anos da queda da ditadura e de instigar as gerações nascidas em democracia a sair da letargia. Num país onde os intelectuais parecem ter desistido de intervir, em especial os mais jovens, apostados em fazer da abulia um traço distintivo, Lídia Jorge faz parte do reduzido núcleo de autores com intervenção cívica. E como não confunde literatura com o direito às convicções, a obra sai incólume. Os Memoráveis é um grande romance, não pela circunstância de dar voz ao lado “correcto” da História, mas por ser exemplo de alto conseguimento literário. Quem conheça a obra de estreia da autora, O Dia dos Prodígios, sabe que Os Memoráveis fecha o ciclo da esperança. A intriga tem um curioso detonador, mas, ao relato factual, Lídia Jorge opõe a deriva mnemónica. Como num anti-clímax, a precisão do Argumento que fecha o livro dá a medida da distanciação crítica. Triunfo absoluto da ficção, mesmo estando lá o Salgueiro, o Carvalho, o Lourenço, o Antunes, o Vulto que impediu a guerra civil, e outros e outras que rasgaram o tempo. Não falta sequer “a poeta Ingrid”, a quem a narradora chama Varinha Mágica. Que tudo isto seja feito sem proselitismo, num discurso que se abstém de tessitura heróica, não é pequeno mérito.
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