[d'Ouvir]


Sou de vidro

Meus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecido
Encubro a luz que me habita
Não por ser feia ou bonita
Mas por ter assim nascido
Sou de vidro escurecido
Mas por ter assim nascido
Não me atinjam não me toquem
Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestido
E um cinto de escuridão
Mas trago a transparência
Envolvida no que digo
Meus amigos sou de vidro
Por isso não me maltratem
Não me quebrem não me partam
Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido
Mas por assim ter nascido
Não por ser feia ou bonita
Envolvida no que digo
Encubro a luz que me habita

Lídia Jorge


Fado do retorno

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E páras no tapete

Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te, na parede
O beijo que me peças

Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça.

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro

Já fuma o nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já veio o nosso sono
Fechar-nos a garganta

Então que os cílios olhem
E assim a casa seja
A árvore do Outono
Coberta de cereja

Lídia Jorge



Chainho(clique sobre a página
para aceder ao vídeo com interpretação
de "Juntei-me à voz verdadeira"
Letra: Lídia Jorge.
Música: António Chainho
Com: Fernando Alvim (Guitarra Clássica), Isabel Noronha (Voz) e Alejandro & Solange (Bailarinos)





Juntei-me à voz da guitarra
Por ser mais que verdadeira
Provei que eu própria era
Feita de sua madeira.

Viemos da mesma árvore
Talhadas do mesmo jeito
Guitarra tem as minhas formas
Eu tenho o seu próprio peito

Estão em mim as suas cordas
E até a mão de quem toca
É carne da minha carne
Falando da minha boca