terça-feira, 14 de junho de 2011

Notas * Homem e Mulher

O arco do amor
Lídia Jorge *

Escultura de Miguel Ângelo Rocha
Até há pouco tempo, falar de amor heterossexual seria uma redundância, de tal forma a ideia de amor envolvia conceitos totalitários. A contemporaneidade, porém, permite-nos aproximar da complexidade das relações humanas e neste domínio, tão central em termos de arte, quanto no espaço da vida, o nosso tempo liberta-nos das escravaturas do amor dual, aquele que separava o corpo da alma, ou a felicidade da moral, permitindo-nos que em torno do tema da relação mulher/homem se estabeleçam gradações infinitas de expressões do amor. O ponto de partida para a leitura dos textos escolhidos para esta sessão em torno do tema foi precisamente uma passagem de um livro cujo temática não só inaugura a compreensão da complexidade dos géneros como, sobretudo, enuncia a variedade de sentimentos e modos que todo o tipo de amor engloba. Escreveu Virginia Woolf em Orlando – “Porque o amor a que podemos voltar agora, tem duas faces: uma branca, outra negra; dois corpos: um liso, outro peludo. Tem duas mãos, dois pés, duas caudas, dois, na verdade, de cada membro, e cada qual é o exacto reverso do outro. No entanto, tão estreitamente se acham unidos que é impossível separá-los…” Assim se inicia uma sequência de textos e vozes que , no seu conjunto, criarão um arco que irá desde o amor em estado de distância e idealização, passando pela atracção irresistível onde o corpo surge com sua feroz matéria de erotismo e luxúria, até ao regresso súbito à consciência de que entre a expressão do amor e a sagração, por vezes, não vai a distância de um gesto. E assim, talvez seja possível chegar ao último texto lido em voz alta durante este fim de tarde, com a demonstração feita de que “Toda a Arte é erótica”, como dizia Adolf Loos, já no início do Século XX, mas só agora nos encontramos em situação de a incorporar nas nossas vidas concretas, enquanto fruição das várias vertentes do amor como beleza.
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* Texto publicado na folha de sala do Teatro Nacional D. Maria II,
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